[São Tiago da] Carvalhosa [Paços de Ferreira, Porto]


O território onde se situa a localidade teve uma ocupação que remonta a tempos muito recuados. Prova disso são o castro de São Domingos [1] e as necrópoles de São Roque [2] e de Peias [3].

Carvalhosa pertenceu, nos séculos X-XII, à denominada Terra de Sousa, área situada entre os vales do Tâmega e do Ferreira, cuja tenência era exercida pela família dos Sousa. Nos começos do século XIII, nas Inquirições de 1220, toda a região aparece [então] abrangida pela designação de Terra de Ferreira, área situada entre os rios Sousa e Ferreira, fruto de um novo ordenamento territorial resultante das alterações políticas ocorridas durante o reinado de D. Afonso II [1210-1223]. Posteriormente, durante o reinado de D. Sancho II [1223-1248] tiveram lugar intensas lutas que se prolongaram pelo reinado do seu filho D. Afonso III [1248-1279]. Com este monarca o concelho de Paços de Ferreira passou, nas Inquirições de 1258, a integrar os julgados de Refojos e de Aguiar de Sousa, ficando Carvalhosa no de Aguiar de Sousa e na arquidiocese de Braga.


A igreja matriz é dedicada a São Tiago e foi ampliada em 1620.
A sua arquitetura é de tal maneira rara que é caso único em Portugal e em toda a Península Ibérica pois só existe uma outra com as mesmas características. A raridade consiste no fato de o seu interior estar dividido em duas amplas naves exatamente iguais.
A fachada principal é muito simples, com empena triangular encimada por uma cruz latina, ladeada por uma torre sineira de forma quadrangular, com remate piramidal. Tem duas portas de entrada, retangulares, simetricamente colocadas para darem entrada direta a cada uma das naves. Ao meio um nicho central com a imagem [gótica] do padroeiro [São Tiago], em calcário, conjuntamente com duas [outras] imagens de Raimonda e Ferreira. No seu interior destaca-se a particularidade já mencionada das duas naves, a capela-mor revestida de azulejos do século XVII e a árvore de Jessé [4].
A cruz da Ordem do Templo aparece inscrita em várias das suas pedras.


[1] Foram identificados vestígios de muralhas e alguns fragmentos de cerâmica de pasta grosseira e de fabrico manual anterior à romanização e também algumas ânforas romanas.
[2] Descoberta em 1952, foram identificadas algumas sepulturas com oferendas diversas, casas e fornos.
[3] Pouco conhecida ainda lá foi encontrado algum espólio ocasional, tal como um jarro e duas bilhas.
[4] A Árvore de Jessé representa a árvore genealógica que relaciona Jessé, pai de David, a Jesus. O nome Jessé foi obtido a partir do nome original Isai, "homem servidor de Javé". Pertencente à tribo de Judá e de Belém, Jessé era descendente de Obed e possuía muitos rebanhos. O novo Messias nasceria da descendência de David, seu filho, e é aquela ascendência davídica que é profetizada na árvore de Jessé. […] Uma teoria recente identifica a figura masculina que aparece por baixo do peitoril da conhecida janela do Convento de Cristo em Tomar como sendo Jessé, de chapéu e barba, segurando as raízes da sua árvore genealógica com as mãos. [aqui].
Acerca do seu estudo aplicado [concretamente] à arte portuguesa vejam-se os estudos de Pedro Vitorino, Árvores de Jessé, em Douro Litoral, 2.ª série, n.º 1, 1944, pp. 25-30, Flávio Gonçalves, Para a compreensão de um retábulo do século XVII, em suplemento do jornal O Comércio do Porto, de 24 de janeiro de 1969, e Robert C. Smith, A talha em Portugal, pp. 78-79.

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