Vila Boa de Quires [Marco de Canaveses, Porto]


Vila Boa de Quires é uma das mais importantes freguesias do concelho de Marco de Canaveses, situando-se no seu extremo ocidental, no limite com o vizinho [concelho] de Penafiel.
A atestar a sua antiguidade encontramos o castro de Quires, situado perto do casal de São Domingos, e que terá sido habitado desde o calcolítico. Ou, ainda, os sítios arqueológicos [mamoa] de Chã de Chouçal, no monte de Perafita, e o da Lagarelha [sepultura de datação indeterminada] e o povoado [fortificado] dos Castelos.
A sua toponímia parece estar relacionada com a existência de uma vila [agrária] romana: Quires é um genitivo do germânico Quederici.
Um dos primeiros documentos relativos a Vila Boa de Quires menciona a freguesia e os seus terrenos, propriedade na sua maioria, em 1129, de D. Flâmula Moniz, que as doou nesse mesmo ano ao mosteiro de Paço de Sousa.
Quanto ao mosteiro de Vila Boa de Quires, terá sido fundado em 1185, embora exista quem, ao invés, refira a data de 1118. Sabe-se que, no século XIII, albergava frades beneditinos e que, por volta de 1320, foi convertido em igreja paroquial, apresentando uma arquitetura marcada pela simplicidade, já que a maior parte da decoração encontra-se nos vãos exteriores e na porta principal. De planta longitudinal, a igreja é composta por nave única e capela-mor abobadada. O portal principal tem quatro arquivoltas, em arco quebrado, assente em impostas com cabeças de gado e capitéis muito decorados.
Segundo as Inquirições de 1258, ordenadas por D. Afonso III, vemos que a paróquia de Vila Boa de Quires estava dividida em duas partes: uma que pertencia ao julgado de Portocarreiro [1] e outra ao de Penafiel.
            Foi reitoria da apresentação da casa de Bragança e comenda da Ordem de Cristo. Teve foral dado por D. Manuel [I], em Lisboa, a 1 de setembro de 1513.


[1] Notável família portuguesa descendente de D. Raimundo Garcia, a quem o conde de Portugal D. Henrique de Borgonha doou o couto de Portocarreiro, senhorio de que tomou o nome. D. Raimundo Garcia de Portocarreiro nasceu cerca de 1090, e devia ser irmão de um D. Monio Garcia, documentado como senhor da quintã de Vilar, que integrava a honra de Portocarreiro, quintã essa que seguiu na descendência de D. Raimundo, pelo que aquele D. Monio não terá tido geração. Seriam assim ambos filhos de D. Garcia Afonso e de sua mulher D. Estevaínha Mendes, que a tradição genealógica diz terem sido grandes fidalgos asturianos, sendo este D. Garcia, ao que se julga, filho de um virtual D. Afonso Garcia e neto de outro D. Garcia Afonso, a quem o rei D. Ordonho III de Leão chama primo numa doação de 954 que fez à Igreja de Santiago de Compostela. Modernas investigações, sem negarem a origem asturiana de D. Garcia Afonso, dizem que terá sido ele a vir para o condado portucalense, onde terá refundado o mosteiro de S. Martinho de Soalhães, que de facto estava na posse dos netos de D. Raimundo, sendo aquele D. Garcia Afonso ou sua mulher provavelmente descendente do fundador inicial.
Bem documentado entre 1129 e 1153, D. Raimundo Garcia de Portocarreiro confirmou vários documentos régios e aparece como membro do concelho que governava Portugal, sendo indicado como um “de illos infançones qui erant in Porttucale”. Numa questão julgada em Coimbra em 1153, sobre o mosteiro de S. Martinho de Soalhães, reuniram nessa qualidade D. Fernão Peres Cativo, D. Gonçalo Mendes de Souza, o arcebispo de Braga, os bispos do Porto, Lamego e Viseu, e os “infanções” D. Gonçalo Gonçalves, D. Raimundo Garcia, D. Sarracino Mendes Espina e D. Gosendo Moniz.
D. Raimundo fez no seu couto a honra e torre paçã de Portocarreiro. A torre, muito arruinada, ainda no séc. XIX existia na posse da família, situando-se na aldeia hoje chamada a Torre, em Vila Boa de Quires. A honra estendia-se por 34 casais ou vilas, incluindo as de Louredo, Souto, Aguelas, Granja, Vilar, Abragão, Agrela, Ribaçais, Vez de Aviz, Samil e Manseles, que durante muitos séculos se manteriam na família. O couto de Portocarreiro deu origem ao concelho de Portocarreiro, extinto definitivamente a 31.12.1853, que integrava as freguesias de Abragão, Maureles, S. Pedro e S. Nicolau de Canavezes, S. Pedro de Portocarreiro e Vila Boa de Quires. Sabe-se ainda que D. Raimundo foi alcaide do castelo de Sátão (Viseu) e, segundo o nobiliário do conde D. Pedro, “deu grand'algo a Mancelos”, o que se confirma pelo facto dos seus descendentes serem naturais do mosteiro de Mancelos.
D. Raimundo casou, teria mais de 40 anos de idade, com D. Gontinha Nunes de Azevedo, das principais famílias portuguesas, que depois de viúva casou em segundas núpcias com D. Gomes Ramires Carpinteiro. Filha do célebre D. Nuno Paes de Azevedo, o “Vida”, alferes-mor do conde D. Henrique, D. Gontinha era neta paterna de D. Paio Godins de Azevedo, da linhagem dos senhores de Baião, e de sua mulher D. Gontinha Nunes Velho, falecida em 1108, filha de D. Nuno Soares Velho, descendente da velha linhagem condal portuguesa dos Betotes, e de sua mulher D. Ausenda Todereis, também descendente das linhagens condais portuguesas, nomeadamente dos Souza.
Do seu casamento, D. Raimundo deixou apenas quatro filhas, duas freiras e outras duas casadas. Destas, a mais nova casou com D. Rodrigo Anes de Valladares, senhor de Penela, com geração nos Vasconcellos, que vieram a ser condes de Penela. A mais velha, que sucedeu na torre e honra de Portocarreiro e por quem passou o nome desta linhagem, chamou-se D. Ouroana Raimundes de Portocarreiro. [aqui]

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