Abrançalha [de Baixo e de Cima] [São Vicente [1], Abrantes, Santarém]


O nome da localidade terá tido origem no do alcaide [mouro] Abraham Zaid, que dominou Abrantes até à conquista da cidade por D. Afonso Henriques, no ano de 1148 [2]. No entanto, o topónimo radicará, com maior probabilidade, no da cabeça do Concelho (a que se acrescentou o sufixo alha). Encontramo-lo já formado e sem variante num documento de 29 de Abril de 1350 (AHCA, SV, 1, 13) [...] - transcrição de um documento de 2 de Setembro de 1317 [3].

Foi casa da Ordem de Cristo, sita na diocese da Guarda, fundada após a reforma (1529) de frei António de Lisboa. O Breve de Gregório XIII (1572-1585), pelo qual foi novamente reformada a Ordem (11 de novembro de 1577), extingui-la-ia conjuntamente com o convento de Nossa Senhora da Luz [Carnide, Lisboa], alegadamente por se acharem “em lugares muito indecentes para que os freires que nela vivem possam mandar-se a Seminários mais sadios dos estudos e fora de perigos, conformar-se na vida com os seus freires [4].


[Abrantes] tem 2 conventos de frades e 2 de freiras. [...] o Convento dos frades de S. António foi fundado por D. Lopo d'Almeida, 3.º Conde d'Abrantes, começando as obras em 1526; era situado no sítio da Ribeira de Abrançalha, no mesmo local em que existira a ermida de N. S.ª da Luz. Os frades viveram 45 anos n'este convento, mas por falta de condições hygienicas, ou porque o tempo e a falta d'aceio o tornasse insolubre, o facto é que os frades começaram a pensar na construcção d'outro convento [5] [6]


[1] compreende [...] os logares de Fonte do Aipo, Val do Rabão, Moinho dos Cubos, Casal, Abrançalha de Baixo, Abrançalha de Cima, Senhora da Luz, Val de Cerejeira, Val de Fontes, Outeiro da Senhora da Luz, Val de Sta. Catharina, S. Lourenço, Samarra, Chainça, Esperança, Quinta da Minhoca, Quinta da Areia, Val de Rans, Quinta dos Telheiros, Gumeme, Fonte de S. José, Quinta de S. José, Mesas, Aldeia Rosa, Hortas, Bréjo, Ramalhões, Quinta Velha, Taínho, Concavada, Alfarrarede de Baixo, Alfarrarede de Cima, Barca do Pégo, Magdalena, Chão de Vide, Bom Sucesso, Themudas, Olho de Boi, Entre as Ribeiras, Casaes, com uma ermida, Paul; os casaes de Revelhos, das Sentieiras, da Amarella, Branco, do Gaio, das Necessidades, do Val da Vinha, de Alvaro Gil, de Azenha Nova, de S. Miguel, da Quebrada, da Cordeira, e a quinta das Sentieiras. [Chorographia moderna do reino de Portugal, vol. IV, p. 157)
[2] É tradição que o nome tenha derivado do velho mouro Abraham Zaid, o lendário alcaide. [frei João da Piedade]
[3] Eduardo Campos e Joaquim Candeias Silva, Dicionário toponímico e etimológico do concelho de Abrantes.
[4] Manuel J. Gandra, Guia Templário de Portugal, em Cadernos da Tradição, n.º 1, p. 229.
[5] Diccionario historico, chorographico, heraldico, biographico, numismatico e artístico, vol. I-A, p. 19.
[6] Convento fundado em 1526 no lugar da Ermida de Nossa Senhora da Luz, sendo mais tarde, em 1571, construído na Quinta da Arca. Desta segunda construção, restam apenas algumas ruínas do edifício principal e do seu aqueduto. Em 1601, foi construído pela terceira vez, no monte de Abrantes. Em 1834, depois das Ordens Religiosas serem extintas, ficou votado ao abandono.
Actualmente, desta edificação apenas restam as ruínas do convento e um aqueduto com 17 arcos em volta perfeita. Este convento foi construído segundo a indicação de Filipe I, que ordenou a transferência do convento original da Ribeira da Abrançalha para aqui no final do século XVI e princípio do século XVII, com o apoio de D. Lopo de Almeida, Conde de Abrantes. No século XVII a quinta e o convento foram abandonados pelos frades, que foram para o centro de Abrantes e a propriedade foi vendida a Diogo Marchão e Maria Gamita. Na segunda metade do século XIX toda esta área era possuída por João Freire Temudo Fialho de Mendonça e faz parte da Quinta da Arca.
O sítio que os Frades escolheram para o novo Convento foi na ribeira, chamada de Vale de Rãs, onde se dizia as bicas, por uma de muita água que, atravessando fazendas, corria para os olivais para benefício público. Com o produto da venda do Convento da N. Senhora da Luz, hortas e esmolas da população, comprou-se novo terreno e deu-se início à construção do segundo Convento de Santo António dos Piedosos, em Vale de Rãs, contra a vontade, já anteriormente manifestada dos moradores da Vila de Abrantes. Possuindo melhores condições que o anterior, situado em terreno “plano”, dai chamar-se Chainça, foi então ordenada a transferência da Ribeira da Abrançalha, para a Quinta da Arca, em meados do Século XVI (1571). Património classificado como valor concelhio (Decreto n.º 129/77, de 29 de Setembro), as ruínas do antigo Convento de Santo António ainda apresenta, traços visíveis do que foi a enfermaria, a hospedaria, um dormitório (de que há paredes e janelas das celas), a sacristia, via-sacra e paredes da Igreja. Enquadrado por habitações recentemente construídas, nos terrenos em redor do antigo Convento, ainda se pode ver o que resta do aqueduto que para ali conduzia a água. Na Quinta da Arca, à semelhança do que aconteceu na Ribeira da Abrançalha, os Frades foram assolados por várias doenças. Sem outras alternativas que não fossem os “chãos de Abrantes”, os Frades resolveram aceitar a oferta e construir no monte da Vila, o derradeiro e último Convento de Santo António. [José Manuel d'Oliveira Vieira, em jornal de Alferrarede, n.º 268, fevereiro de 2008]

Sem comentários:

Enviar um comentário